Dieta com restrição calórica associada a atividade física é a abordagem inicial recomendada para perda de peso no tratamento da obesidade. A literatura sugere baixa taxa de sucesso, com baixa adesão ao longo do tempo. O jejum intermitente surgiu como possibilidade de mudar esse cenário, restringindo o consumo alimentar a um período menor que 10 horas durante o dia, sem orientação direta de modificar a composição da dieta ou reduzir calorias. A eficácia e segurança dessa intervenção no longo prazo ainda não estavam bem estabelecidas.
Estudo recente publicado no New England Journal of Medicine (NEJM) trouxe novas evidências sobre o assunto. Participaram 139 pacientes com obesidade, randomizados para alimentação com restrição de tempo (comer apenas entre 8h e 16h) com restrição calórica ou restrição calórica sem restrição de horário. Durante 12 meses, todos os participantes foram instruídos a seguir uma dieta com 1.500 a 1.800 kcal por dia para homens e 1.200 a 1.500 kcal por dia para mulheres. O desfecho primário foi a redução do peso corporal; desfechos secundários incluíram mudanças na circunferência da cintura, índice de massa corporal (IMC), percentual de gordura corporal e medidas de fatores de risco metabólicos. A perda de peso média foi de -8,0 kg no grupo de restrição de tempo e -6,3 kg no grupo de restrição calórica (D: -1,8 kg; IC 95%, -4,0 a 0,4; P = 0,11). Não houve diferenças substanciais entre os grupos nos desfechos secundários nem no número de eventos adversos. Quase 85% dos pacientes completaram o estudo e a adesão à intervenção foi de aproximadamente 80%.
Algumas limitações foram apontadas. Os participantes já apresentavam um período de tempo habitual para alimentação relativamente curto – 10 horas e 23 minutos. Portanto, a redução para 8 horas foi modesta (aproximadamente 2 horas). As pessoas com período habitual de alimentação mais longo são as que mais se beneficiam da restrição de tempo. Além disso, a restrição calórica pode ter diminuído efeitos relacionados exclusivamente a restrição de tempo. Por fim, os pacientes eram relativamente saudáveis, o que pode ter limitado os efeitos da restrição de tempo nos fatores de risco cardiometabólicos, como foi observado em estudos que envolveram pacientes com síndrome metabólica. Os pacientes tiveram acompanhamento regular e rigoroso pela equipe do estudo, o que pode ter potencializado os resultados do grupo placebo. O estudo foi todo desenvolvido na China, limitando a aplicabilidade a outras populações.
Apesar dessas limitações, este estudo reforça a evidência de que uma intervenção dietética efetiva, com acompanhamento regular, envolvendo o uso de plataformas digitais, automonitoramento pelos pacientes e feedback frequente, pode trazer benefícios significativos diante da prevalência crescente de obesidade. Estudos futuros determinarão a duração apropriada da janela de tempo para comer, seu posicionamento adequado ao longo do dia, além de caracterizar os indivíduos com maior probabilidade de se beneficiar dessa abordagem. Aguardamos novos resultados.