Os inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (iSGLT2), como a dapagliflozina, reduzem o risco de agravamento da insuficiência cardíaca (IC) e morte por causas cardiovasculares em pacientes com IC. Esses agentes também reduzem a taxa de declínio a longo prazo da taxa de filtração glomerular estimada (TGFe), assim como o desenvolvimento de doença renal terminal em pacientes com doença renal crônica (DRC), com ou sem diabetes mellitus tipo 2 (DM2).
O mecanismo de ação do iSGLT2 consiste em inibir a reabsorção de sódio e glicose no túbulo proximal, levando ao aumento da liberação de sódio e cloreto para a mácula densa. Isso resulta em vasoconstrição arteriolar aferente secundária à ativação miogênica mediada por adenosina, levando a uma redução da pressão intraglomerular e da TFG. Por isso, é comum observar um declínio inicial na taxa de filtração glomerular estimada, o que pode causar alguma preocupação clínica, particularmente em pacientes com uma função renal já comprometida.
Uma análise post hoc do estudo DAPA-HF publicada na revista Circulation, incluindo mais de 4.000 participantes com ICFEr, observou que as alterações médias na taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) durante os primeiros 14 dias foram –1,1 mL/min/1,73m2 e –4,2 mL/min /1,73m2 com placebo e dapagliflozina, respectivamente. No geral, 38,2% dos pacientes experimentaram um declínio inicial >10% na TFGe com dapagliflozina em comparação com placebo. No entanto, no grupo dapagliflozina, um declínio inicial >10% foi associado a um risco reduzido de 27% do desfecho primário em comparação com aqueles com declínio ≤10%.
Os achados dessa nova análise destacam que um declínio precoce na TFGe após o início da dapagliflozina é comum, pequeno e associado a melhores resultados clínicos em pacientes com ICFEr. Mas os benefícios também foram observados no que refere aos desfechos renais. Para pacientes com declínio inicial na TFGe, o tratamento com dapagliflozina foi associado a um declínio mais lento a longo prazo na função renal.
Os dados do estudo reforçam a ideia de que não devemos descontinuar os inibidores de SGLT2, a menos que a TFGe diminua em mais de 30%. Devemos também entender que que o nadir observado na função renal ocorre logo após o início de um iSGLT2 e a queda inicial na TFGe reverte parcialmente nas 8 semanas subsequentes.