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Metabolismo Ósseo

Suplementação de cálcio aumenta a mortalidade de idosos com estenose aórtica?

calcio
Escrito por Erik Trovao

Na última década, a suplementação oral de cálcio vem protagonizando alguns debates polêmicos sobre seus efeitos no sistema cardiovascular. E, recentemente, estudo publicado na revista Heart veio colocar mais lenha nessa fogueira. Os autores avaliaram indivíduos com doença valvar leve a moderada e concluíram que a suplementação de cálcio aumentou a mortalidade de idosos com estenose aórtica.

O desenho do estudo foi longitudinal, mas retrospectivo, o que foi citado como uma limitação pelos autores, e incluiu 2657 pacientes (42% do gênero feminino) com média de idade de 74 anos atendidos entre 2008 e 2016. A média de acompanhamento foi de 69 meses e os pacientes foram divididos em 3 grupos: sem nenhuma suplementação (49% dos indivíduos); com suplementação isolada de vitamina D (12%); e com suplementação de cálcio e de vitamina D (39%).

Ao final do estudo, a mortalidade cardiovascular foi maior no grupo que fez suplementação dupla. O mesmo ocorreu com a mortalidade por todas as causas. O grupo de pacientes que suplementava cálcio também teve maior necessidade de realizar troca valvar. Desta forma, o estudo concluiu que a suplementação oral de cálcio, com ou sem vitamina D, está associada à menor sobrevida e à maior necessidade de troca valvar em idosos com estenose aórtica leve a moderada.

Os autores também tiveram o cuidado de estratificar os pacientes de acordo com o diagnóstico de osteoporose. Afinal, a menor densidade mineral óssea tem sido associada a uma progressão acelerada da calcificação valvar. No entanto, os resultados do presente estudo mostraram o aumento da mortalidade com a suplementação de cálcio independentemente do grau de perda óssea.

Vale ressaltar também que a maioria dos pacientes incluídos no estudo apresentavam alto risco cardiovascular: 80,8% eram hipertensos e quase 50% tinham doença arterial coronariana. Devemos, portanto, ter o cuidado de não extrapolar os resultados obtidos para uma população de baixo risco cardiovascular e, principalmente, sem presença de estenose aórtica.

Não podemos afirmar, por exemplo, que a suplementação de cálcio aumenta o risco de estenose aórtica numa população previamente saudável e muito menos que aumenta a mortalidade. No entanto, em idosos com a presença da citada doença valvar e alto risco cardiovascular, os dados apresentados sugerem que se evite a suplementação.

Mas se o nosso paciente com estas características tiver a necessidade de tratar osteoporose? Percebam que o estudo avaliou a ingestão oral de cálcio pela suplementação e não pela dieta. Os próprios autores discutem a potencial maior segurança da dieta sobre a suplementação. E, há alguns anos, a dieta rica em cálcio já vem sendo mais recomendada entre idosos com perda de massa óssea do que a suplementação, exatamente pela maior evidência de segurança cardiovascular.

De qualquer modo, é preciso estar atento para as limitações metodológicas do estudo. Uma destas limitações é a não especificação do tipo de suplemento utilizado. Não sabemos se estes pacientes faziam mais uso de uma preparação específica (carbonato, citrato ou fosfato) em detrimento de outra. Também não sabemos a dose média de suplementação utilizada.

Nos últimos anos, especialistas em metabolismo ósseo têm reforçado que a dose de cálcio suplementado não deve exceder 1200mg ao dia, exatamente como forma de evitar qualquer efeito adverso sobre o sistema cardiovascular. Os autores do presente estudo citam que as doses entre os participantes variaram de 500 a 2000mg ao dia, mas não fornecem a média final nem a porcentagem de pacientes que faziam mais de 1200mg ao dia.

Portanto, embora este estudo traga um alerta importante para suplementação de cálcio sobre uma população específica de idosos, é necessário que estudos futuros e prospectivos confirmem seus achados e que mais evidências surjam referentes à segurança cardiovascular do cálcio.

Por enquanto, cabe ao clínico continuar preferindo a dieta rica em cálcio e sempre evitar doses de suplementação acima de 1200mg/dia. E, caso seu paciente tenha tanto estenose aórtica, ficar atendo ao risco/benefício da suplementação.



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Sobre o autor

Erik Trovao

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