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Obesidade

Tecido adiposo marrom vs branco: o que precisamos saber?

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Escrito por Ícaro Sampaio

O tecido adiposo é um dos órgãos mais plásticos de todo o corpo, sendo atualmente aceito como um elemento essencial para a manutenção da homeostase energética. Três tipos diferentes de adipócitos são descritos em mamíferos: adipócitos brancos, adipócitos marrons e adipócitos bege. Os adipócitos marrons e os adipócitos brancos formam a maior parte do tecido adiposo marrom (TAM) e do tecido adiposo branco (TAB), respectivamente. Tanto o TAB quanto o TAM, em diferentes proporções, aparecem como depósitos localizados em todo o corpo. Mas, por que é importante entender a diferença entre ambos?

O TAB tem três funções macroscópicas comumente compreendidas e relacionadas: a armazena as calorias dos alimentos, cria uma camada de isolamento térmico e fornece proteção mecânica. É o tecido adiposo responsável por 5% da captação de glicose mediada por insulina em adultos magros e 20% naqueles com obesidade. Até três décadas atrás, esses papéis fisiológicos eram considerados os mais importantes, mas as descobertas de hormônios derivados de adipócitos brancos, como leptina e adiponectina, deixaram claro que TAB também é um órgão endócrino.

O tecido adiposo marrom tem como maior função dissipar calor a partir do desacoplamento mitocondrial, com função primária de termorregulação. Até pouco tempo, a sua presença em humanos, com exceção do período neonatal, era desconhecida. Com a utilização de novas ferramentas diagnósticas, descobriu-se que ao menos uma fração dos humanos possuem TAM metabolicamente ativo. Considerando sua função termogênica, uma quantidade maior de TAM seria um fator protetor contra ganho de peso e hiperglicemia, visto que o tecido ativo utiliza glicose e ácidos graxos livres (AGLs) como substrato para a produção de calor.

Mesmo presente de forma limitada, o TAM em adultos parece ter um efeito clínico substancial, pois estudos retrospectivos e prospectivos mostram uma associação inversa entre atividade do TAM e o IMC. Além disso, um estudo recente mostrou que pessoas com TAM  tinham níveis mais saudáveis de glicose plasmática, triglicerídeos e lipoproteínas de alta densidade do que pessoas sem a presença desse tecido.

Ensaios clínicos são necessários para determinar os resultados da ativação do TAM a longo prazo, uma vez que estudos em roedores sugerem que a ativação desse tecido pode levar à ingestão alimentar compensatória ou, de forma contrária, à supressão do apetite. Estudos clínicos prospectivos iniciais mostraram que o tratamento a longo prazo com agonistas dos receptores β3-adrenérgicos aumenta a massa do TAM, estando associado a melhorias na sensibilidade à insulina e fatores de risco cardiometabólicos.

Referências:

Cypess AM. Reassessing Human Adipose Tissue. N Engl J Med. 2022 Feb 24;386(8):768-779. 

HALPERN, Bruno. O papel da melatonina na regulação do tecido adiposo marrom. 2018. Tese (Doutorado em Endocrinologia) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. doi:10.11606/T.5.2018.tde-31102018-131724. Acesso em: 2022-03-13.

Shinde AB, Song A and Wang QA (2021) Brown Adipose Tissue Heterogeneity, Energy Metabolism, and Beyond. Front. Endocrinol. 12:651763. 



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Sobre o autor

Ícaro Sampaio

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco
Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro - BA
Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE
Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Editor e Professor do AfyaEndocrinopapers
Professor de endocrinologia da Medcel
Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife

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