O único tratamento específico para a síndrome da quilomicronemia familiar aprovado no Brasil até o momento é o volanesorsen, droga que consegue reduzir os níveis de triglicerídeos em mais de 70%. Embora seja uma condição rara, o tratamento padrão com fibrato costuma ser ineficaz, de modo que novas formas de tratamento são necessárias para reduzir o alto risco de pancreatite nos pacientes com esta síndrome. Neste contexto, o olezarsen é uma nova perspectiva de tratamento.
O olezarsen, assim como o volanesorsen, é um antisenso do oligonucleotídeo da apolipoproteína CIII (apo CIII), que tem assim sua síntese hepática reduzida. A apo CIII inibe a ação da lipase lipoproteica (LPL), enzima responsável pela metabolização dos quilomícrons circulantes. Na quilomicronemia familiar, o defeito genético subjacente impede de algum modo a ação da LPL, aumentando os níveis de quilomícrons e, consequentemente, de triglicerídeos.
A diferença do olezarsen para o volanesarsen consiste na sua ligação com uma molécula conhecida como GalNAc3 que confere à droga uma penetração facilitada no núcleo do hepatócito para exercer seu efeito de inibição sobre a apo CIII. Isto permite que a dose e o volume de injeção do olezarsen seja menor.
Recentemente, foi publicado no The New England Journal of Medicine o estudo de fase 3 do olezarsen. Foi um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, com 66 pacientes com 18 anos ou mais: 22 usaram a droga na dose de 80mg; 21 a dose de 50mg; e 23 usaram placebo. A aplicação foi subcutânea uma vez a cada mês. O desfecho primário foi o percentual de redução dos níveis de triglicerídeos em jejum com 6 meses de tratamento.
O nível basal médio de triglicerídeos foi de 2630 mg/dl. A dose de 80mg do olezarsen conseguiu reduzir de forma significativa a hipertrigliceridemia em 43,5%; os níveis séricos de apo CIII foram reduzidos em 73,7%. Já a redução com a dose de 50mg não foi significativa. No grupo placebo, 11 indivíduos tiveram pancreatite contra apenas 1 paciente no grupo do olezarsen.
Quanto aos efeitos adversos, os mais referidos foram dor abdominal e diarreia, mas não foram mais frequentes do que no grupo placebo. Em apenas 3 pacientes do grupo de intervenção (2 com a dose de 80mg e 1 com a de 50mg) foi preciso descontinuar a droga por intolerância. Plaquetopenia transitória ocorreu em apenas 1 paciente com a dose de 80mg.
Os autores concluíam que o olezarsen é eficaz e seguro para o tratamento da quilomicronemia familiar, podendo ser considerado mais uma alternativa terapêutica para a síndrome.