O desafio da perda de peso
A obesidade é uma doença crônica, recorrente, multifatorial, com prevalência crescente em todo o mundo. Trata-se de uma condição heterogênea, tanto nas repercussões clínicas quanto na resposta às abordagens terapêuticas, como dietas, medicamentos ou mesmo à cirurgia. A busca por fatores que possam predizer o melhor tratamento para a perda de peso em cada paciente segue sendo um desafio.
A fisiopatologia da obesidade pode ser simplificada no desbalanço entre o excesso de consumo e o gasto insuficiente de calorias. O comportamento alimentar divide-se em homeostático e hedônico. O primeiro seria o determinado por sinalizações orgânicas relacionadas ao funcionamento corporal. Envolve a fome (desejo de comer), saciação (quantidade de alimento ou calorias para terminar a refeição) e a saciedade (tempo até o retorno da fome). Já o comportamento alimentar hedônico é aquele compensatório, guiado pela busca de prazer, também conhecida por “fome emocional”, associado ao estresse ou ansiedade.
Novas evidências
Um estudo desenvolvido na Mayo Clinic e publicado na revista Obesity tenta discutir o tema. Os autores buscaram classificar os índividuos em quatro fenótipos: “cérebro faminto” (baixa saciação), “fome emocional” (alimentação hedônica), “intestino faminto” (baixa saciedade) e “queimadores lentos” (diminuição da taxa metabólica). Parte dos pacientes recebeu medicações dirigidas de acordo com o fenótipo: “cérebro faminto” – fentermina-topiramato ou lorcaserina; “fome emocional” – naltrexona/bupropiona; “intestino faminto”: liraglutida; “queimador lento”: fentermina + treinamento de resistência.
Entre os 450 indivíduos estudados, 27% se enquadravam em 2 ou mais fenótipos e 15% não puderam ser classificados em nenhum dos 4. Os pacientes foram divididos em 2 grupos: um com tratamento dirigido pelo fenótipo, outro não dirigido. Após 12 meses de acompanhamento, o grupo que recebeu tratamento dirigido teve maior redução de peso (15,9% vs 9%) com maior proporção de indivíduos alcançando perda maior que 10% do peso inicial (79% vs 34%). O estudo apresenta limitações: o grupo dirigido era mais jovem (43 vs 50 anos) e houve diferença nos agentes farmacológicos utilizados (maior uso de naltrexona-bupropiona no grupo dirigido e maior uso de fentermina-topiramato no não dirigido), além da clara limitação de se tratar de um estudo aberto.
Mudanças na conduta?
A aplicabilidade deste estudo no Brasil fica limitada pela falta de alguns dos agentes utilizados no estudo. Dispomos atualmente apenas de sibutramina (que poderia substituir a fentermina), orlistat e liraglutida. Existe previsão da chegada em breve da combinação bupropiona-naltrexona. Outra limitação é o custo das medicações, considerando que nenhum agente anti-obesidade é disponível pelo SUS.
Concluindo, a identificação de possíveis padrões alimentares pode ajudar na escolha do tratamento mais efetivo para cada paciente. A grande frequência de superposição entre os fenótipos referencia uma necessidade de tratamento farmacológico combinado, com diferentes mecanismos de ação, porém respeitando interações medicamentosas e potenciais efeitos adversos. Cabe lembrar que a adesão a um programa de seguimento clínico regular, atrelado a adequação nutricional e atividades físicas é condição indispensável em qualquer programa de controle de peso.