Um número crescente de evidências sugere que, além da fase aguda da doença (primeiros 30 dias), as pessoas com COVID-19 podem apresentar sequelas pós-agudas, que envolvem manifestações pulmonares e extrapulmonares, incluindo diabetes mellitus (DM). Novos dados de estudos recentes sobre o tema nos fazem refletir se já não é hora de encarar a infecção pelo SARS-Cov-2 como fator de risco para DM.
Um estudo publicado no final de março na revista Lancet Diabetes & Endocrinology, analisou dados de mais de 180.000 pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA. Os autores do estudo compararam pacientes que testaram positivo para COVID-19 e sobreviveram à doença por mais de um mês com mais de 4 milhões de outras pessoas que não contraíram COVID no mesmo período (controles contemporâneos). Esses dados também foram comparados com outros 4,28 milhões de pacientes que foram atendidos em 2018 e 2019 (controles históricos). O grupo COVID-19 foi subdividido naqueles que não foram hospitalizados (n=162 096), hospitalizados (n=15 078) ou admitidos em uma unidade de terapia intensiva durante a fase aguda da doença (n= 4106).
Na fase pós-aguda da doença, em comparação com o grupo controle contemporâneo, as pessoas com COVID-19 exibiram um risco aumentado (HR 1,40, IC 95% 1,36–1,44) de incidência de diabetes mellitus. O risco foi significativo entre aqueles que não foram hospitalizados e aumentou de forma gradual de acordo com o cenário de cuidados da fase aguda da doença (ou seja, se as pessoas não foram hospitalizadas, hospitalizadas ou internadas em terapia intensiva).
É importante observar que mesmo os participantes com baixo risco de diabetes antes da exposição ao COVID-19 apresentaram risco aumentado em comparação com controles contemporâneos e históricos. Outro dado que merece destaque é que a maioria dos casos incidentes foram DM tipo 2.
Se levarmos com consideração o número gigantesco de casos de COVID-19 em todo o mundo, tal aumento no risco de diabetes pode corresponder a um aumento drástico no número de pessoas diagnosticadas com a doença, caso as tendências observadas sejam verdadeiras. É claro que ainda são necessários novos estudos para entender com maior clareza o impacto da COVID-19 sobre o risco de DM, mas é possível que em breve tenhamos que elaborar diretrizes para rastreamento de hiperglicemia nessa população.