A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), a manifestação hepática da síndrome metabólica, é a principal causa de doença hepática em todo o mundo. A esteatohepatite não-alcoólica (NASH) representa a forma progressiva da DHGNA, na qual a esteatose é acompanhada por inflamação e fibrose que pode levar a cirrose e hepatocarcinoma.
Publicado recentemente no JAMA, o estudo SPLENDOR avaliou o impacto da cirurgia bariátrica na redução de eventos adversos relacionados ao fígado (progressão para cirrose, hepatocarcinoma, transplante hepático ou morte) e eventos cardiovasculares (MACE). Foram incluídos 1.158 pacientes com NASH comprovado por biópsia sem cirrose; 650 foram submetidos à cirurgia bariátrica (83% by-pass e 17% Sleeve) e os 508 restantes serviram como controles. Os participantes tinham uma idade mediana de 49,8 anos, um índice de massa corporal (IMC) mediano de 44,1 kg/m2 e quase 64% eram mulheres.
Durante um follow up de 10 anos, houve redução dos desfechos hepáticos (redução absoluta de 12,4% (IC 95%, 5,7% -19,7%); HR 0,12 (IC 95%, 0,02-0,63)) e cardiovasculares (redução absoluta de 13,9% (IC de 95%, 5,9% -21,9%); HR (IC 95%, 0,12-0,72)). Além disso, os pacientes no grupo de cirurgia bariátrica tiveram maiores reduções de peso (22% vs 4,6%, respectivamente) e nos níveis de HbA1c (diferença absoluta de – 1,6%).
Devemos lembrar que a obesidade é o principal fator fisiopatológico da NASH, sendo a perda de peso o tratamento primário recomendado, visto que intervenções diretamente dirigidas ao processo inflamatório são escassas. Considerando que toda a amostra era formada por pacientes obesos, a maioria com obesidade graus 2 e 3, e 40% tinha diabetes, percebemos a clara indicação da cirurgia bariátrica, de forma que o achado do estudo só vem acrescentar mais um benefício na realização do procedimento.