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Metabolismo Ósseo

Reposição de vitamina D reduz o risco cardiovascular?

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Escrito por Erik Trovao

Nas duas últimas décadas, inúmeros estudos observacionais têm demonstrado uma associação entre níveis insuficientes de vitamina D e doenças extra-esqueléticas, como doença cardiovascular, resistência à insulina e até mesmo câncer. A plausibilidade fisiológica existe, já que receptores para o hormônio podem ser encontrados nos mais variados tecidos, inclusive em células cancerígenas. Também já foram descritas diversas ações potencialmente benéficas da vitamina D, como a inibição do sistema renina-angiotensina e a sensibilização periférica à ação da insulina. Os estudos, no entanto, são incapazes de estabelecer uma relação causal entre a hipovitaminose D e um maior risco de doenças crônicas não relacionadas à saúde óssea. A hipótese de que níveis mais baixos de vitamina D possam ser apenas um marcador destas doenças e, portanto, uma consequência e não uma causa, é igualmente plausível.

Faz-se necessário, então, que estudos de intervenção demonstrem se existe ou não uma relação entre a suplementação de vitamina D e o risco de desenvolver as mais diversas doenças a qual o hormônio tem sido relacionado. Até o momento, inúmeros estudos com esse objetivo foram realizados, mas com resultados controversos, embora a maioria não tenha tido sucesso em mostrar qualquer benefício extra-esquelético.

Seguindo esta linha, o American Journal of Clinical Nutrition publicou, em janeiro de 2022, os resultados de uma coorte finlandesa com 2495 indivíduos saudáveis, (incluindo homens ≥60 anos e mulheres ≥65 anos de idade), com o objetivo de avaliar o efeito da suplementação de vitamina D sobre a incidência de doença cardiovascular e câncer invasivo.

Os participantes foram randomizados em 3 grupos de intervenção: placebo, suplementação de vitamina D na dose de 1600UI/dia e suplementação de 3200UI/dia. Os desfechos primários foram a ocorrência de qualquer câncer invasivo e os desfechos compostos de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e mortalidade cardiovascular. Os desfechos secundários foram: os componentes individuais do desfecho cardiovascular composto; câncer colorretal; câncer de mama em mulheres; câncer de próstata em homens; e mortalidade total por câncer.

Após 5 anos de seguimento, não houve nenhuma diferença entre os grupos para qualquer um dos desfechos analisados, mostrando, assim, que a suplementação de vitamina D não foi capaz de reduzir o risco cardiovascular nem a incidência de câncer invasivo na população estudada.

No entanto, os autores atribuem tal achado aos níveis basais adequados de 25-hidroxivitamina D na maioria dos participantes incluídos.  Na Finlândia, desde 2003, existe uma política de suplementação alimentar de vitamina D, o que ajuda a explicar por que, mesmo entre idosos de um país cuja localização geográfica recebe menos exposição solar, a proporção de deficiência de vitamina D não é alta. Fica, portanto, a dúvida se o resultado do estudo seria diferente caso a proporção de participantes com níveis basais insuficientes de 25-hidroxivitamina D fosse maior.

No entanto, este não é o primeiro estudo de intervenção que não demonstra benefício da suplementação de vitamina D sobre o risco cardiovascular. O VITAL trial, publicado no New England Journal of Medicine, em 2019, acompanhou 28.871 indivíduos também por cerca de 5 anos, e não demonstrou qualquer benefício da suplementação de vitamina D sobre os desfechos cardiovasculares ou sobre a incidência de câncer. Da mesma forma, o ViDA trial, publicado, em 2017, no JAMA Cardiology, não demonstrou qualquer benefício de altas doses mensais de vitamina D na incidência de doença cardiovascular em 5108 indivíduos seguidos por 3 anos.

Portanto, ainda não é possível afirmar que a reposição de vitamina D tem qualquer benefício sobre a saúde cardiovascular, embora dados de estudos realizados em populações de outras regiões do planeta não possam ser extrapolados para países como o Brasil.

Afinal, o nosso país, mesmo próximo à linha do Equador, tem uma prevalência de hipovitaminose D considerada alta, provavelmente em decorrência da nossa dieta ser caracteristicamente deficiente em vitamina D, sem a existência de nenhuma política de suplementação alimentar, como ocorre na Finlândia e em outros países. Desta forma, fica-se o questionamento: que efeito teria a suplementação de vitamina D sobre o risco cardiovascular da população brasileira?



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Sobre o autor

Erik Trovao

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