Os micronutrientes são elementos essenciais exigidos pelos organismos em quantidades variadas para regular as funções fisiológicas das células e órgãos, sendo necessários em pequenas quantidades para o correto funcionamento do organismo. O termo “essencial” se aplica pela insuficiência da produção endógena, de forma que tais elementos precisam fazer parte da composição nutricional. Uma dieta adequada é capaz de suprir as necessidades diárias de vitaminas e minerais, principais componentes desta categoria.
Apesar disso, a comercialização de micronutrientes na forma de suplementos, sob a premissa de supostos benefícios adicionais à saúde, vem crescendo ano após ano. Mais da metade dos adultos nos EUA toma suplementos. Em 2021, foram gastos cerca de US$ 50 bilhões em suplementos naquele país, com investimentos de cerca de US$ 900 milhões em marketing por parte da indústria.
As novas evidências acerca desses benefícios relacionados à suplementação ainda são muito fracas. Mais que isso, trabalhos tem sugerido potenciais eventos adversos relacionados ao uso excessivo desses elementos. Estudo recentemente publicado na revista JAMA encontrou relação inversa entre iodúria e níveis de testosterona, sugerindo que a suplementação de iodo pode estar relacionada a quadros de hipogonadismo. Transportadores de iodo, particularmente simportadores de sódio/iodeto e a pendrina, foram identificados em tecidos extratireoidianos, incluindo testículos. O excesso de iodo reduziria a sua expressão, justificando a associação.
Dados preocupantes surgiram desde a publicação de uma grande meta-análise pela Cochrane Library. Na revisão foram incluídos 78 ensaios clínicos. No total, 296.707 participantes foram randomizados para receber suplementos com antioxidantes (betacaroteno, vitamina A, vitamina C, vitamina E e selênio) ou placebo. Não foram encontradas quaisquer evidências que apoiem o uso de “antioxidantes” para prevenção primária ou secundária de morte. Pelo contrário, os dados apontaram uma associação entre o uso de suplementos com betacaroteno e, possivelmente, vitamina E e vitamina A e o aumento no risco de mortalidade. O mesmo grupo, em estudos mais recentes, encontrou evidências de muito baixa qualidade de eventuais benefícios dos antioxidantes na melhora de fertilidade. Já em uma analise relacionada a degeneração macular, os antixoxidantes demonstraram eventual benefício, recebendo recomendação para uso nos casos moderados.
Em publicação anterior no mesmo jornal, a Força Tarefa de Serviços de Prevenção (USPSTF) concluiu que os dados atuais são insuficientes para determinar benefícios ou riscos no uso de vitaminas, isoladamente ou em associação, para redução do risco de doenças cardiovasculares ou câncer. Mais que isso: a suplementação de beta-caroteno (com ou sem Vitamina A) foi associada a um possível maior risco de câncer de pulmão e mortalidade geral e cardiovascular. Para a Vitamina E, a entidade sugere ausência de benefício e se posiciona contra a suplementação dessas duas substâncias.
Enfim, as grandes entidades recomendam a adequação nutricional como ferramenta central para o aporte de níveis adequados de micronutrientes. Alguns cenários particulares podem se beneficiar da suplementação, como situações de maior demanda (gravidez, por exemplo) ou dificuldade de absorção (pacientes submetidos a cirurgia bariátrica). O uso indiscriminado de suplementos não é recomendado, podendo levar a potenciais malefícios.