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Diabetes Obesidade

“Novos”eventos adversos da Semaglutida: devemos nos preocupar?

Tirzepatida
Escrito por Luciano Albuquerque

Entre julho de 2022 e junho de 2023, o OzempicR , marca comercial da semaglutida, foi o medicamento de maior faturamento no Brasil, sendo responsável por um faturamento de 3,7 bilhoes de reais nesse período. De Jojo Todynho a Elon Musk o medicamento esteve na lista dos desejos de praticamente todas as pessoas interessadas no controle de peso, uma indicação originalmente off label visto que a aprovação do medicamento para tratamento da obesidade só ocorreu no início de 2023, e a formulação com essa finalidade, o WegovyR, até o momento não está disponível no Brasil.

Com o aumento do número de pacientes em todo o mundo e o maior tempo de uso da medicação, relatos de eventos adversos mais graves têm surgido, gerando preocupação na classe médica. Apesar do fato de que os agonistas de GLP-1 estarem no mercado para tratamento de diabetes há quase 2 décadas, sua popularização é mais recente, impulsionada principalmente pelos resultados de perda de peso, indicação na qual são usadas doses mais elevadas. A possibilidade de adquirir a medicação sem maiores mecanismos de controle, e muitas vezes sem acompanhamento médico, acaba contribuindo para a maior frequencia de eventos adversos.

Sociedades de anestesiologia e gastroenterologia tem lançado recomendações para a suspensão de uso por até 21 dias antes de procedimentos cirúrgicos e endoscópicos. A gastroparesia, pelo conhecido retardo no esvaziamento gástrico já é evento conhecido, porém tem surgido relatos de eventos mais graves, com paralisia e obstrução intestinal. Estudo recente apontou risco 9 vezes maior de pancreatite, risco 4 vezes maior de obstrução intestinal e risco 3 vezes maior de gastroparesia, em comparação com a naltrexona/bupropiona, outro medicamento aprovado para tratamento da obesidade. Os riscos absolutos são muito baixos, menores que 1% por ano de uso do GLP-1. Além disso, semaglutida e liraglutida não foram associadas à doença biliar.

Em julho deste ano, relatos de casos de depressão e suicídio levaram a Agência Europeia de Medicamentos a analisar cerca de 150 casos de possíveis autolesões e pensamentos suicidas entre pessoas que usavam liraglutida ou semaglutida. Pesquisadores referem que não se sabe se os medicamentos causaram esses incidentes, mas que pensamentos e comportamentos suicidas foram relatados com outras classes de medicamentos para a obesidade. Em diversos países, os rótulos dos medicamentos com semaglutida e tirzepatida incluem um aviso para monitorar depressão ou pensamentos suicidas.

A obesidade é uma condição crônica e os medicamentos indicados para controle de peso devem ser de uso de longo prazo e potencialmente vitalícios. Possíveis efeitos relacionados a hiperplasia de células parafoliculares (e consequente maior risco para carcinoma medular de tireoide) e a complicações oculares, como piora de retinopatia têm sido monitorizados, e até o momento não parecem merecer maiores preocupações.

 Outra preocupação crescente têm sido o surgimento de falsificações. Os custos elevados geram dificuldade de acesso aos agonistas do GLP-1, levando alguns pacientes a recorrer a versões manipuladas, que podem nem sempre ser seguras ou eficazes. O FDA alertou sobre relatos de eventos adversos associados à semaglutida manipulada e diz que pacientes e profissionais de saúde devem saber que alguns produtos podem não conter o mesmo ingrediente ativo que o produto aprovado pela entidade. Em outubro, a agência enviou cartas de advertência sobre venda ilegal de medicamentos a empresas que vendem semaglutida e tirzepatida online.

Concluindo, com a grande população exposta ao medicamento, já era esperado o surgimento de novos eventos adversos. A frequencia de tais eventos ainda é muito baixa e não interfere nos benefícios observados com o controle do peso. A medicação requer prescrição e acompanhamento por médico devidamente capacitado para o tratamento da obesidade, que pode prever interações medicamentosas e manejar da melhor maneira os eventuais eventos adversos que possam surgir com o uso da semaglutida. Consulte seu endocrinologista!



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Sobre o autor

Luciano Albuquerque

Preceptor da residência em Endocrinologia do HC-UFPE e da residência em Clínica Média do Hospital Otávio de Freitas. Presidente da SBEM regional Pernambuco no biênio 2019-2020.

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