O tratamento com os inibidores do cotransportador de sódio-glicose tipo 2 (iSGLT2) já demonstrou redução de eventos cardiovasculares em pacientes de alto risco com diabetes tipo 2 (DM2), além de demonstrar benefícios na doença renal crônica (DRC) e na insuficiência cardíaca (IC) independente da coexistência de DM2. No caso da IC, os benefícios também foram independetes da fração de ejeção ventricular. Com base nesses estudos, essa classe de medicamentos está estabelecida como padrão em todas as condições citadas.
No entanto, não está claro se o tratamento com iSGLT2 também pode trazer benefícios nos pacientes que tiveram um infarto agudo do miocárdio (IAM) recente. No estudo DAPA-MI, a dapagliflozina trouxe benefícios metabólicos com redução significativa no desenvolvimento de DM2 e uma maior perda de peso comparada ao grupo placebo. Excluídos esses dois pontos da avaliação, não foram observados benefícios relacionados a novo IAM, arritmias, hospitalização por IC ou morte cardiovascular.
Nesse contexto, acompanhamos com interesse os dados do estudo EMPACT-MI, apresentado no congresso do Colégio Americano de Cardiologia (ACC) e simultaneamente publicados no NEJM, que avaliou o potencial beneficio da empagliflozina após um infarto. Um total de 7522 pacientes hospitalizados por IAM foram randomizados para empagliflozina 10mg ou placebo. A medicação foi iniciada dentro de um intervalo de 14 dias após o evento. Durante um acompanhamento mediano de 17,9 meses, o desfecho primário de hospitalização por IC ou morte por qualquer causa ocorreu em 267 pacientes (8,2%) no grupo empagliflozina e em 298 pacientes (9,1%) no grupo placebo (RR 0,90; p=0,21).
Apesar de não atender o desfecho primário, o risco de primeira hospitalização por insuficiência cardíaca (RR 0,77 P=0,031) e hospitalizações totais por insuficiência cardíaca (RR 0,67, P=0,006) foi significativamente menor no grupo da empagliflozina. A necessidade pós-alta de novo uso de diuréticos, moduladores de renina-angiotensina e antagonistas do receptor mineralocorticóide foi menor em pacientes randomizados para empagliflozina do que placebo (todos p<0,05).
O infarto agudo do miocárdio tem como consequência frequentemente a evolução para insuficiência cardíaca. Assim, a utilização precoce de empagliflozina pode desempenhar um papel na prevenção dessa complicação em pacientes de alto risco, especialmente naqueles com congestão ou evidencia de disfunção ventricular esquerda.