A prescrição dos agonistas do receptor do GLP-1 RA tem atraído a atenção não apenas por seu efeito hipoglicemiante, mas também pela potência na redução do peso corporal, menor risco de hipoglicemia e benefícios cardiovasculares e renais.
Muitos questionamentos têm surgido sobre a necessidade de suspender os GLP1-RA antes da realização de procedimentos endoscópicos. A preocupação é válida, dado que o esvaziamento gástrico retardado é um mecanismo de ação dos agonistas do GLP-1. O conteúdo gástrico retido interfere na visualização do estômago durante a endoscopia digestiva alta, diminuindo assim o rendimento diagnóstico e muitas vezes exigindo que o endoscopista interrompa o procedimento prematuramente devido ao risco aumentado de aspiração.
Estudo recente publicado no Journal of Diabetes Investigation investigou a associação entre o tratamento com GLP-1 RA e resíduo gástrico em exames de esofagogastroduodenoscopia. Trata-se de um estudo caso-controle de pares pareados. A população consistiu de 1.128 indivíduos com diabetes que realizaram esofagogastroduodenoscopia entre julho de 2020 e junho de 2022. Após pareamento, foi comparada a presença de resíduo gástrico na esofagogastroduodenoscopia entre pacientes com e sem tratamento com GLP-1RA.
Nesse estudo, a proporção de resíduo gástrico foi estatisticamente significativamente maior no grupo de tratamento com GLP-1RA (0,49% vs 5,4%, P = 0,004). Os medicamentos utilizados nos 11 pacientes com resíduo gástrico foram: liraglutida uma vez ao dia 1,8 mg (n = 2), dulaglutida uma vez por semana 0,75 mg (n = 5), semaglutida semanal 0,5 mg (n = 2) e semaglutida semanal 1,0 mg (n = 2).
Bem, mas o que dizem as sociedades médicas?
Várias organizações de gastroenterologia emitiram recentemente uma declaração conjunta intitulada “Não há dados para apoiar a interrupção dos agonistas do GLP-1 antes da endoscopia eletiva.” Os autores da declaração argumentam que são necessários mais dados antes que qualquer recomendação possa ser feita sobre a interrupção desses agentes antes da endoscopia digestiva alta.
Recentemente a Sociedade Brasileira de Diabetes publicou um novo capítulo na sua diretriz no qual orienta a suspensão dos análogos de GLP1 e agonistas duais (GIP/GLP1) previamente a procedimentos que envolvam sedação anestésica ou anestesia geral.
Referências:
Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes 2023