Apesar da constante evolução e do surgimento de novos agentes farmacológicos para o tratamento da hiperglicemia, as sulfonilureias (SU) seguem como uma das classes mais prescritas aos portadores de diabetes tipo 2. Tal classe está associada a risco de hipoglicemia e ganho de peso, além da questionada falência precoce de células beta. Estudos prévios, incluindo metanálises, também apontam para maior risco cardiovascular, porém com diferenças entre os agentes estudados. Gliclazida e Glimepirida estariam associados a menor risco quando comparados a Glibenclamida. Estudos prospectivos randomizados contra glitazonas e gliptinas também não mostraram aumento na incidência de eventos e mortalidade com os dois primeiros.
Um estudo recentemente publicado na Diabetes Care trouxe novos dados sobre o tema. Em uma coorte populacional com 67.500 pacientes, o uso de glibenclamida e glipizida esteve associado a maior risco de 3P-MACE (aHR 1.21 [95% CI 1.03–1.44]), AVCi (aHR 1.23 [95% CI 1.02–1.50]), e morte cardiovascular (aHR 2.61 [95% CI 1.31–5.20]) em comparação com usuários de gliclazida e glimepirida. O risco teve relação direta com a dose e o tempo de uso dessas medicações, reforçando a associação.
Tal diferença estaria relacionada a menor afinidade pelo canal de K mitocondrial (mitoK) do cardiomiócito. Esse canal está envolvido no mecanismo de precondicionamento isquêmico. Quando exposto a breves episódios isquêmicos, processos adaptativos limitam a área infartada, com redução de necrose e apoptose do musculo cardíaco no evento isquêmico agudo. SU de menor seletividade impediriam a abertura dos mitoK, aumentando risco de complicações agudas.
SU seguem como a segunda classe de medicamentos mais prescrita no tratamento do diabetes. Têm baixo custo, com larga experiência clínica acumulada ao longo dos últimos 50 anos. Entretanto, é de conhecimento geral que a população diabética apresenta alto risco para eventos cardiovasculares, sendo essa a principal causa de morte nessa população. Assim, diante das evidências apresentadas, faz-se fundamental a disponibilização de agentes associados a menor risco, possibilitando o melhor controle glicêmico, particularmente nas faixas populacionais de menor renda.